No Brasil, o termo é novo, mas a ciência não. Na verdade, a bioeconomia já é realidade no País desde a década de 1970, quando foi criado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Graças a essa iniciativa, surgida na época para enfrentar a crise mundial do petróleo, o Brasil é hoje o segundo maior produtor mundial de etanol e o maior exportador mundial.
O que é bioeconomia?
É um modelo de produção industrial baseado no uso de recursos biológicos. O objetivo é oferecer soluções para a sustentabilidade dos sistemas de produção com vistas à substituição de recursos fósseis e não renováveis. Os principais pilares da bioeconomia são a produção de bioenergia e de insumos químicos e materiais renováveis, com a substituição da indústria petroquímica e do carvão mineral pela bioindústria ou indústria de base biológica.
A bioeconomia já é uma realidade no Brasil?Sim. O desenvolvimento econômico do País tem um histórico de uso da energia da biomassa desde os ciclos da cana-de-açúcar até as florestas energéticas para a siderurgia e ao programa nacional do álcool (Pró-Álcool) iniciado em 1975, e também ao programa de biodiesel (Pró-óleo) nos anos 1980. Em meados da década de 2000, o programa nacional para produção e uso do biodiesel (PNBIO) fortaleceu e modernizou o conceito de interatividade de ações públicas e privadas. Foi possível acoplar tecnologias e mecanismos de gestão capazes de gerar saltos de competitividade na ampliação de escala de geração de fontes alternativas de energia renovável. A partir deste período observa-se, também, uma tendência internacional ao aumento da produção de biocombustíveis, como resposta às ameaças criadas pela oscilação no preço de combustíveis fósseis e pelas mudanças climáticas globais. Hoje, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol, biodiesel e celulose.
Quais são as principais vantagens da bioeconomia?
Trata-se de uma economia inovadora com baixas emissões de carbono e gases de efeito estufa (GEE), que concilia as exigências para a agricultura sustentável, a segurança alimentar e o uso sustentável dos recursos biológicos renováveis para fins industriais, assegurando ao mesmo tempo a biodiversidade e a proteção ambiental. Pode-se dizer que é um modelo econômico que atende às expectativas da sociedade contemporânea no que se refere às questões ambientais que envolvem o esgotamento de recursos fósseis e as consequências da poluição.
Que setores são abrangidos pela bioeconomia?
Principalmente o agronegócio. Uma dos principais necessidades da bioeconomia é o suprimento de matéria-prima (biomassa) em grande volume, com qualidade e fluxo constante para a agroindústria que pode ser usada na geração de insumos, bioprodutos, materiais, bioenergia, entre outros. Entretanto, as plataformas energéticas estão desenhadas para extrapolar o âmbito da produção agropecuária, incorporando inovações em toda a cadeia produtiva, contemplando aspectos ligados à agroindustrialização, aos processos de conversão de matéria-prima em produtos energéticos, às questões de gestão e logística, impactos socioeconômicos e ambientais, cenários futuros mundiais da produção e do comércio, monitorando, inclusive, o desenvolvimento da pesquisa ligada às tecnologias complementares ou concorrentes com as que forem desenvolvidas no País.
O que é economia circular e qual o papel da bioeconomia nesse modelo?
Baseia-se no aproveitamento máximo de todos os insumos de forma sustentável, com mínima geração de resíduos. Na agricultura, os insumos de uma cadeia produtiva podem ser obtidos a partir dos resíduos de outra cadeia produtiva. Como exemplo, destaca-se o aproveitamento do bagaço de cana-de-açúcar na geração de bioeletricidade.
Dentro dessa perspectiva, qual é o potencial do Brasil no campo da bioeconomia?
A bioeconomia tem potencial para fortalecer a economia nacional, especialmente pela capacidade de agregar valor aos produtos agrícolas. Hoje, o pilar mais forte da economia brasileira é o agronegócio. O País é um grande produtor e exportador de commodities e a bioeconomia pode revigorar ainda mais esse segmento oferecendo ao mercado produtos de valor agregado com características sustentáveis. Um bom exemplo é a celulose. O Brasil é um grande exportador de sua polpa, mas a bioeconomia tem potencial para diversificar a agregar valor ao uso dessa matéria-prima com produtos de elevado teor tecnológico não apenas para a produção de papel, como também para a indústria têxtil e de químicos, entre outras. Além disso, o Brasil é protagonista na produção de biocombustíveis em nível mundial. E eles têm uma importância significativa na diminuição da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.
Outo fato a ser destacado é a megabiodiversidade brasileira, que é um manancial genético à disposição da ciência para desenvolvimento de insumos biológicos, bioprodutos, novos polímeros, bioativos e tecnologias sustentáveis. A exploração sustentável dessa biodiversidade, especialmente com as modernas ferramentas de biotecnologia, pode ser determinante para que o Brasil se destaque na bioeconomia em nível mundial.
O que é o Plano de Ação para Ciência, Tecnologia e Inovação para Bioeconomia?
É uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) para consolidar um plano de ação para a bioeconomia no País até 2022 e é o primeiro documento governamental nessa área. O Plano está ligado à Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia (ENCT) e define como foco de atuação da bioeconomia a exploração de recursos renováveis biológicos em prol da agricultura, alimentação, energia, saúde e bem-estar da população. O objetivo é alavancar políticas públicas no Brasil.
Quais são os principais desafios para o desenvolvimento da economia no Brasil?
- Estabelecimento de uma Política Nacional de Bioeconomia, alinhada com políticas públicas para bioenergia, como o Renovabio, visando saltos de competitividade do Brasil;
- Criação de Sistema de Inteligência Estratégica para energia de biomassa, com foco no mapeamento, disponibilidade e caracterização de biomassas, resíduos e efluentes no território nacional, visando subsidiar investimentos para estruturação do emergente parque industrial de base biológica (bioindústria);
- Melhoramento genético de matérias-primas agroenergéticas - sacarinas , amiláceas e oleaginosas - visando ganhos de produtividade, tolerância a estresses abióticos, resistência a pragas e aquisição de características que facilitam o processamento/aproveitamento industrial. Destaques para o melhoramento assistido por marcadores moleculares, o uso de ferramentas de transgenia e a edição gênica;
- Desenvolvimento de processos industriais eficientes para desconstrução de biomassa lignocelulósica (pré-tratamento e hidrólise enzimática) e aproveitamento integral da biomassa (celulose, hemicelulose e lignina) para produção de energia, produtos químicos e materiais renováveis;
- Desenvolvimento de veículos movidos à célula a combustível alimentada por etanol;
- Desenvolvimento de rotas tecnológicas para produção de bioquerosene de aviação; gás de síntese; termoquímica;
- Processos de produção de biogás/biometano a partir de resíduos e efluentes urbanos e industriais. Destaque para processos de reforma de biogás visando à produção de gás de síntese;
- Desenvolvimento da Biotecnologia Industrial e processos biofísicos, químicos e biológicos, visando à produção de biocombustíveis, bioativos, enzimas, polímeros, ácidos orgânicos, polióis, dentre outros. Destaque para a utilização de microrganismos modificados geneticamente por meio da utilização de técnicas de engenharia metabólica e biologia sintética;
- Desenvolvimento de novos processos industriais no âmbito da alcoolquímica, oleoquímica e gliceroquímica com vistas à produção de materiais e produtos químicos renováveis;
- Modelagem técnico-econômica e análises de ciclo de vida (ACV) como ferramentas direcionadoras para investimentos em novas matérias-primas/processos/produtos no contexto de biorrefinarias.
Fonte: EMBRAPA